Gato Fedorento

 

 

O Gato Fedorento é um grupo de quatro humoristas portugueses composto por José Diogo Quintela, Miguel Góis, Ricardo de Araújo Pereira e Tiago Dores. Começaram a sua carreira através de "stand-up comedy" e só mais tarde viriam a ter um programa na televisão.

A SIC Radical foi a estação de televisão onde o grupo se estreou com uma série de episódios humorísticos compostos por sketches: a Série Fonseca. O sucesso tal que criaram outras duas séries semelhantes à primeira na mesma estação. Contudo, a SIC generalista emitiu alguns episódios, o que contrariou o acordo entre esta e o grupo, levando assim ao rompimento com a estação. A RTP decidiu contratá-los e elaboraram mais uma série humorística idêntica as anteriores: a Série Lopes da Silva.

A 26 de Agosto de 2006, o Gato Fedorento exibiu um programa intitulado "Diz Que É Uma Espécie De Magazine" retratando com sarcasmo e humor a actualidade em que se encontravam. Esse programa foi um sucesso de audiências para a estação pública portuguesa. Em vez de ser constituído por vários sketches (como nas séries anteriores), cada episódio era gravado num estúdio, com público, onde os quatro humoristas comentavam a actualidade, com a ajuda de sketches satíricos pré-gravados.

O Gato Fedorento já produziu quatro séries: a Série Fonseca, a Série Meireles, a Série Barbosa e a Série Lopes da Silva (nomes típicos portugueses). O nome deriva do facto de todas as personagens se chamarem Fonseca (Tiago Fonseca, Ermelinda Fonseca, Aurélio Fonseca, etc.), Meireles (Raul Meireles, Nicolai Meireles, Adolfo Meireles, etc.), Barbosa ou Lopes da Silva, respectivamente. A exibição da terceira série (Série Barbosa) foi cancelada no final do Verão de 2005 devido a divergências com a direcção da SIC.

Nas quatro séries emitidas, o sucesso do Gato Fedorento prendeu-se por ser um humor inteligente, sem medo de remeter para referências eruditas, que recusava o uso de vulgaridades, e que não mencionava directamente nem acontecimentos nem personagens reais. No "Diz Que É Uma Espécie De Magazine" vigoravam na mesma estes conceitos; porém, os sketches referenciavam acontecimentos e personagens reais.

"Diz que é uma espécie de Magazine" teve duas temporadas de 13 episódios cada, e viria a acabar com a XXXVII Gala dos Tesourinhos deprimentes na Aula Magna de Lisboa. Reataram em Setembro durante o seu regresso a televisão. A terceira temporada começou a 8 de Outubro e terminou a 16 de Dezembro de 2007. Viriam a despedir-se, e a entrar de férias durante 9 meses, com um espectáculo chamado Diz Que É Uma Espécie de Réveillon na passagem de ano 2007 ou 1984.

A 9 de Janeiro é anunciadoo regresso à SIC iniciando-se a colaboração em Setembro de 2008, com o programa "Zé Carlos"


 

História

A história do Gato Fedorento começou em Abril de 2003, quando os quatro autores, todos argumentistas nas Produções Fictícias, se juntaram para criar um blog da Internet. Na hora de escolher o nome para o blog, decidiram dar o nome de uma música da série americana Friends, intitulada "Smelly Cat", gato fedorento em português.

Após algum tempo, Ricardo de Araújo Pereira e Zé Diogo Quintela foram convidados para fazerem sketches humorísticos no programa da SIC Radical "O Perfeito Anormal". Sketches como "Filme Indiano" e "Chupistas" ficaram rapidamente conhecidos. Isto levou Francisco Penim, director da SIC Radical, a propor-lhes um programa independente. A estes dois juntaram-se Tiago Dores e Miguel Góis, que já participavam no blog, tendo começado assim o programa.

Por altura do Natal de 2004 foi lançado um DVD com todos os sketches da Série Fonseca, que se tornou o n.º1 no top nacional de DVD's. Os quatro autores fizeram então espectáculos ao vivo nos quais representam alguns dos sketches mais famosos da série; foram realizados espectáculos no Teatro Tivoli (Lisboa), no Coliseu do Porto, e um pouco por todo o país, todos com casa cheia.

No dia 2 de Maio de 2005, teve início a nova série do gato fedorento, denominada Série Barbosa. Também em Maio, saiu pela editora Cotovia o livro "Gato Fedorento: o blog", onde se recolhe grande parte dos 'posts' do blog original.

No final do verão de 2005 o quarteto fedorento abandona a SIC por desavenças com a direcção da SIC generalista, após a exibição de alguns programas da série Fonseca sem a sua autorização. Em Novembro de 2005 foi lançado um segundo DVD, contendo todos os sketches da série Meireles.

Em Dezembro de 2005 a equipa do Gato Fedorento assinou um contrato de dois anos com a Rádio e Televisão de Portugal. No dia 24 de Março do ano seguinte começou a ser exibida a 4.ª série do programa, a série Lopes da Silva.

No dia 29 de Outubro de 2006, os Gato Fedorento decidiram mudar radicalmente o formato do seu programa, começando a ser exibido o "Diz que é uma espécie de magazine", um programa onde os humoristas satirizam os acontecimentos da actualidade, e que até hoje apresentou convidados especiais e musicais como: Vozes da Rádio, Da Weasel, David Fonseca, Moonspell, Luís Represas, Fernando Mendes, Liliana Campos, André Sardet, Xutos e Pontapés, entre outros.

Em Novembro do mesmo ano foi lançado um DVD contendo os sketches da Série Lopes da Silva. Gato Fedorento é famoso por ter grande influência em Portugal.

Muitas expressões populares foram popularizadas pelo seu uso nas piadas. Por causa dos "Tesourinhos Deprimentes", é vulgar chamar-se "Tesourinho" a uma situação embaraçosa. O Gato Fedorento é famoso pelas suas imitações humorísticas do Primeiro-ministro José Sócrates, Paulo Bento, Major Valentim Loureiro, Scolari, etc.

 

"Chavões" e Piadas Recorrentes

· Ah, e tal:
Desde o famoso sketch do "Homem a quem parece que aconteceu não sei quê" da série Fonseca que a expressão "ah, e tal" é constantemente usada nos programas do Gato Fedorento. (A expressão foi classificada como "pouco poética" pelos Vozes da Rádio, no 3º episódio do programa Diz que é uma espécie de magazine, ao que os Gatos responderam com indignação e perplexidade)


· "O que é que eu fiz?":
Esta é uma fala muitas vezes usada em sketches, especialmente na série Meireles. A personagem diz esta frase depois de alguém o repreender.

Na série Lopes da Silva, quando Ricardo tem a personagem de "Fiscal de danças ridículas", ele pergunta: "O que é que eu efectuei?" Num episódio da série Meireles, os autores de facto mostram 5 sketches seguidos em que o final é sempre com uma ou mais personagens a repetir a fala (em dois dos sketches sendo a mesma personagem, e num sendo um grupo de soldados a dizer "O que é que nós fizemos?").


 
· Uso de palavras "finas":
O uso de palavras incomuns é um dos pratos fortes do Gato Fedorento. Exemplos: "efectuar" em vez de "fazer"; "possuir" em vez de "ter"; "pois" em vez de "porque"; "ofertar" em vez de "oferecer"; "optar por" em vez de "escolher", "suceder" em vez de "acontecer", etc.

· Ausência de grosserias:
Um dos aspectos mais cómicos do Gato Fedorento, é o facto de eles quase não proferirem grosserias nem palavrões, (oposto ao que acontece por exemplo com séries como a brasileira Hermes e Renato), substituindo-os pela sua variante técnica ou menos brejeira, e criando assim um efeito hilariante. (por exemplo: "rabo", "seios", " (micose no) escroto", "vagina", "pénis", etc.)

 
· "Derivado a", "de maneiras que", etc:
Este tipo de expressões populares gramaticalmente incorrectas é muito utilizado. Os Gatos preferem usar a versão errada em vez da que seria correcta ("devido a", "de maneira que", etc.)

 
· "Disse-me um passarinho do mundo editorial":
Esta frase é proferida muitas vezes nas duas primeiras séries, sempre que há uma entrevista a algum artista/escritor.


· Matarruanos:
Desde a Série Barbosa que os quatro actores vestem-se regularmente de "matarruanos" para alguns sketches, onde gozam com os camponeses (principalmente na série Lopes da Silva, tendo a capa do DVD a imagem deles a retratar os matarruanos). Normalmente é o Ricardo Araújo Pereira a fazer o papel de matarruano, imitando uma exagerada pronúncia beirã.

Um sketch musical até é intitulado "Rap dos Matarruanos" (série Lopes da Silva), onde os quatro actores cantam um rap sobre o amor a uma ovelha.

 
· Jesus:
Desde a série Barbosa que Jesus Cristo é retratado humoristicamente junto (de alguns) dos seus apóstolos (sempre três, os restantes Gatos Fedorentos que não fazem o papel de Jesus). Alguns sketches que protagonizam o Messias incluem Jesus ensaia figuras de estilo, Feno da Galileia, Jesus Mexicano, Jesus dá erros de português. Todos os actores excepto o Tiago fizeram o papel de Jesus.


· "A Arca dos Tesourinhos Deprimentes da História da Televisão Portuguesa":
Esta é uma arca usada no Diz Que É Uma Espécie de Magazine que contém várias cassetes, supostamente com histórias deprimentes e reais da televisão portuguesa que os autores passam no programa.


· "Fraquinho" e "Razoavelzinho":
Estas palavras são muitas vezes usadas, sobretudo a palavra "fraquinho", dita sempre com uma voz aguda e até infantil. Por exemplo, no sketch da série Fonseca "Homem que não consegue mentir", quando lhe dizem "O senhor, como mentiroso, é muito mau." Ele responde "Não, sou excelente! Sou muito bom. Sou bastante razoável; sou mais ou menos, sou fraquinho - sou mau... Sou mau..."


· Personalidade Jurídica:
Nas Séries Fonseca e Meireles, os actores utilizavam diversas vezes a frase "Mas tu não tens personalidade jurídica!". Esta frase, dizem os actores, foi proferida por um anónimo, num restaurante em que estavam a jantar. Acabaram por utilizar esta frase que tanto os fez pensar (e até rir, sem motivo aparente) nos seus sketches, e foram criadas diversas modificações da frase, como por exemplo "Disseram-me que eu não tinha personalidade jurídica!" ou "Congresso de pessoas sem personalidade jurídica".


· Banano:
Esta palavra é muitas vezes usada (em particular por Ricardo Araújo Pereira) como significando pancadaria ou violência. No sketch da série Barbosa "Acidente de avião", uma testemunha de um acidente de aviação diz que o capitão lhe "deu um banano", acrescentando que "aquilo ainda dói". No sketch "Sr. Fernando", os actores tentam passar por machos perante um forcado exorcista (o Sr. Fernando), e o Ricardo refere: "Um banano...Na GNR...Um banano!", entre "atirar da ponte" e "vinho vou eu beber". Num episódio do Diz Que É Uma Espécie de Magazine, é apresentado um sketch onde um homem relata uma luta por que passou, dizendo a certa altura: "pregam-me mais seis ou sete bananos..."


· A Questão das Pescas:
Em quase todos os sketches das 4 primeiras séries onde é representado um debate político, o debate trata da «questão das pescas», nunca sendo esse o aspecto principal do sketch. Exemplos desses sketches são: "Fox, o Cão Político", onde o cão Fox ajuda o dono (um político) no seu debate, recomendando-lhe que falasse da questão das pescas; o sketch "Ó Sôtor! Sôtor! Senhores Deputados" começa com dois deputados a falarem da questão das pescas, originando várias repetições com as frases "Ó Sôtor!", "Sôtor!" e "Senhores Deputados!". Curiosamente, é quase sempre Ricardo Araújo Pereira a trazer "a questão das pescas". No comentário dos autores da série Meireles, Ricardo declara que "a questão das pescas é a nossa questão favorita", e Miguel diz que eles estão "sempre atentos a essa questão".


· Pessoas ciciosas:
Em alguns sketches se tem verificado o aparecimento de pessoas ciciosas, ou fanhosas. No sketch da série Fonseca "Diseur Cicioso", um homem com esse defeito de pronúncia vai à TV dizer um poema. No sketch "Gajo com demasiadas características" da série Lopes da Silva, um homem na empresa é marreco, coxo, maneta e é fanhoso.


· Contabilidade:
Em sketches retratados em empresas, fala-se normalmente da contabilidade, ou sendo como o departamento que tem mais acidentes ou para designar certas personagens: num sketch do Diz Que É Uma Espécie de Magazine, um homem é louvado por todos por ter conseguido marcar um golo no jogo de futebol da empresa ao Gordo da Contabilidade. A Sónia Badalhoca da Contabilidade é referida duas vezes: num sketch da série Meireles, em que um entrevistador de emprego pergunta à candidata como prefere engravidar, mostrando várias posições sexuais, dizendo a um ponto: "A Sónia da Contabilidade prefere esta"; e no sketch "Gajo com demasiadas características", onde o "Zé Manel" diz que quer que o tratem por Gonorreias, pois é das poucas maleitas que ele não tem porque não consegue apanhar, ao que um colega lhe pergunta: "Nem com a Sónia Badalhoca da Contabilidade?".


· Tempo indefinido:
Uma das primeiras piadas do Diz Que É Uma Espécie de Magazine, que depois se foi perdendo, foi, antes de os Gatos darem o noticiário, dizerem "Que horas é isto?", olharem para o relógio e responderem "É tarde. Está na hora de actualizar as notícias!"

 
· Aldeias:
Durante as primeiras 4 séries, a maior parte dos «matarruanos» veio de uma aldeia chamada São Jorge da Morrunhanha (embora no sketch «Filósofo Matarruano» haja um matarruano vindo de uma aldeia chamada Sr. Miguel da Morrunhanha). Num sketch da série Fonseca, «As Grandes Questões do Nosso Tempo», o presidente da câmara de S. Jorge da Morrunhanha é entrevistado com questões filosóficas, que só o levam a falar sobre a aldeia. Para o Diz Que É Uma Espécie De Magazine, foi criada uma nova aldeia chamada Vila Nova da Rabona, e já foi feito um sketch com o presidente da câmara da Vila Nova da Rabona, que era um homem extremamente corrupto, que queria, por exemplo, deitar abaixo o hospital para construir um novo estádio de futebol, e para castigo daqueles que protestassem, ele ameaçava fechar a casa de alterne, «eu telefonava à minha filha e dizia-lhe: olha, tu e as tuas primas fechem as portas e não aceitam mais clientes!». Num sketch onde José Sócrates é gozado pelos seus ministros, eles estão a falar sobre construir uma ponte da Vila Nova Rabona a São Jorge da Morrunhanha, o que indica que as duas aldeias são perto uma da outra.

 
· Ezequiel Valadas:
O Presidente da Câmara de Vila Nova da Rabona, retratado por Ricardo Araújo Pereira. No Magazine, os Gatos normalmente convidam-no para dar a sua opinião sobre alguns assuntos políticos, e reflecte as ideias do médio político português. É corrupto, mentiroso, agride os opositores, manda demolir os hospitais para haver espaço para mais campos de futebol e ameaça fechar a casa de alterne (na qual trabalha a sua filha, primas e esposa) se o povo se queixar. A sua presença é mais acentuada na segunda série do Magazine. A sua frase característica é a sua despedida, "Boa noite e obrigado sou eu". O humor de Ezequiel Valadas reside na sua aparência e expressões de gíria, que ele introduz no discurso inesperadamente. Uma piada corrente é a sua falta de inteligência, o que o faz muitas vezes enganar os Gatos com mentiras pobremente inventadas e cuja verdade é depois revelada por ele próprio (numa destas ocasiões, na Noite de Fim de Ano de 2007, quando uma das suas mentiras é descrita como escandalosa, ele diz "Não, um escândalo é você, a esta hora da noite, ainda não estar suficientemente embriagado para acreditar nesta").